sábado, 6 de abril de 2013

ALICE UNDERGROUND, MAS NEM TANTO ASSIM...




“e sempre que a historia
esgotava os poços da fantasia...”
Lewis Carroll

A peça “Alice Underground” com temporada exibida no Teatro Eva Hertz na Livraria Cultura do Shopping Rio Mar,  em Recife, merece algumas considerações. 
A primeira delas está no mérito do esforço em trazer ao público uma releitura dos clássicos Alice no País das Maravilhas e Alice através do espelho, de Lewis Carroll, escritor inglês do século XIX, e propor uma dose de ousadia, marcadamente em sua trilha sonora. No entanto, alguns graves deslizes ofuscaram o potencial da proposta.
De modo geral, observamos uma notória dificuldade em romper a cotidianidade e explorar a dimensão fantasiosa. Dimensão essa presente no texto e citada nas falas iniciais que introduzem uma perspectiva nonsense e existencialista que, lamentavelmente, não se configuraram na maior parte das cenas seguintes, marcadas por certa banalização do hiper-real,  que reduzido de modo racional e preconceituoso, cai em um inevitável senso comum do proposto alter (outro). Não se olha o outro que se sugere haver em sua multiplicidade de possibilidades, mas ratificam-se estereótipos de comportamentos alternativos.
Vale destacar a pobreza do texto indicadora de uma superficial leitura dos originais de Lewis Carroll. Para subverter ou para interpretar livremente parece-nos ser fundamental dominar o texto original, adentrar na experiência e “atmosfera” literária, potencializando-as no gestual que, em muitos casos, tem mais força que o próprio texto. Parece-nos ainda, que nos momentos de menor ênfase nas falas chegava-se ao tempo forte de expressão artística, não cotidianizada.  
Considerando-se que não se tratou de uma comédia, fora o riso, o texto e as interpretações não provocaram espanto, inquietação. Infelizmente, a dimensão de submundo (underground) não foi representada, tampouco a loucura e o lúdico, trazendo muito mais clichês e mesmices.
Um detalhe a parte, e lamentável, foi a falta de gestão administrativa do teatro Eva Hertz que vendeu ingressos até depois do inicio da apresentação provocando um inconveniente abrir e fechar de portas que retirava a atenção dos presentes. É lastimável que o público não seja pontual e se adeque minimente às condições de um local coletivo de expressão artística que exige concentração e rupturas como é próprio do espaço teatral.


Natalia Barros e Francisco Cavalcanti – 06/04/13